quinta-feira, 11 de junho de 2015

O velho tempo

Sou dessas pessoas que costuma observar cada lance, cada detalhe, cada toque, a duração de cada abraço, cada minuto, cada palavra, cada rotina, cada momento minucioso que se espalha entre uma pessoa e outra quando a gente senta para esperar nosso ônibus passar. Gosto de sentar num lugarzinho só meu e observar como os olhares se comportam diante das inúmeras aparências do cotidiano; são olhares meio de lado, olhares que se esquivam, que se desencontram, que se fixam, olhares que acompanham até que a gente vire a esquina, ou o rosto. Sou apaixonada por olhares. Gosto de tentar imaginar o que se passa entre a cabeça e o coração das pessoas e, apesar de serem completamente distintos, a gente sente quando uma palavra quer sair e o cérebro chega pra ser mais teimoso. Gosto de me perder no tempo para só depois me encontrar. Acho graça nas respostas, no quanto a gente tanto se perde nelas, do quanto já deixamos ir, mas não há nada mais agradável que sentar num banquinho à beira mar, olhar o vento soprando forte, levantando nossas idéias e nossos cabelos brancos, passar horas e horas jogando conversas de como éramos tão mais felizes quando jovens, de como somos tão mais espertos a cada novo grisalho no cabelo. E quando a gente reflete, é hora de agradecer a todos aqueles amores e aquelas pessoas que já nos trouxeram aqueles velhos desentendimentos que quando mais novos pensamos que nunca iria cessar. Mas cessou. O que passou é a melhor reflexão que podemos ter, que nenhum livro ou terapia irá conseguir nos ensinar de nenhuma maneira e, talvez, aprender de maneira mais árdua seja o nosso melhor momento de viver no tempo. E assim, nos tornamos mais essência em um mundo de aparências. 


*fotografia por Lucas Sidrim.

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