domingo, 14 de junho de 2015

Insustentável mundo novo

Domingo, 14 de junho de 2015, 14:38:47 hrs.
Alguns dias após as festividades do “dia dos namorados”, caminhava – reflexiva – sobre as complexidades do tempo. Em cada rua que passava, observada cada minucioso detalhe em cada pessoa que passava calada por mim, alguns de sorrisos meio de lado, outros sorrisos tortos, olhares distantes; nas paredes era notória a ausência de vida e eu ficava imaginando quantas vidas poderiam renascer se tivéssemos o habito de pintar corações onde quer que fosse; ouvi cada passo, cada tic tac no relógio e se fechasse os olhos, era possível ouvir as batidas do coração daqueles que por mim passavam. O dia foi escurecendo, a lua enfim sorriu. Parecia que ela gargalhava a cada carícia trocada pelos que se amavam e se espalhavam pelas cidades. Por sorte, encontrei com um senhor de cabelos brancos, em seus 80 e tantos novos motivos para continuar. E ele também sorriu. Assim, do nada. Foi aí que percebi que o nosso maior valor não está nas roupas caras, nos carros da moda e nem em quanto temos na carteira. Há algo de valor e não muito valorizável dentro da gente, e aí lembrei que a Cassia Eller conseguiu traçar palavras passadas de um plano futuro, não é só o mundo que está ao contrário, os nossos valores também.
Continuei caminhando pelas ruas que ali iam aparecendo, sem destino ou ponto de chegada. Eu não sabia para onde queria ir, mas sabia exatamente com quem queria estar. A cada estrela que ia aparecendo no céu, transformando a noite mais clara, eu pensava em todas aquelas pessoas, nas marcas internas que o tempo já havia causado, nos olhares tristonhos e sorrisos amarelados, certamente manchados por perdas ou amores, por palavras ou gestos que esvoaçaram no peito e estilhaçaram a mancha da vermelhidão. As nuvens, carregadas das lágrimas de Deus, pareciam dançar juntamente com as árvores enquanto o vento batia nelas, ao som de Elephant Gun – aquela música gostosa que dá vontade da gente pegar a primeira pessoa na rua e sair fazendo um flash mob descombinado -, e cada barulho de pássaro voando parecia complementar perfeitamente a sinfonia da vida.
23:59:59.
O dia estava indo embora, e junto dele ia também mais algumas horas de vida. Nas ruas e casas, alguns agradeciam, outros se queixavam de viver; nos hospitais, eles rezavam por mais tempo de vida. Enquanto caminhava despercebida indo de encontro ao meu ponto de partida, mal percebi que iria partir tão cedo.

- isso é um assalto, passa tudo que você tem de mais valor!

Pela primeira vez na vida, eu simplesmente não sabia o que fazer. Não sabia se ria ou chorava. Não sabia se corria ou ficava. Não sabia se abraçava aquele alguém que desconhecia os verdadeiros valores da vida. Mas apenas esvaziei meus bolsos. Nada tinha, senão alguns papéis rabiscados e um lápis com a ponta quebrada de tantos amores já escritos. Se eu pudesse, rasgaria meu coração e daria para aquele moço, porque nada me trouxe mais valor, senão amar imensamente as pessoas que adentraram de maneira inenarrável as minhas veias que naquela hora pareciam pulsar cada vez mais rápidas, e às coisas que cativei.
Foi hoje, exatamente nessa hora. Às 00:00:00 de segunda-feira, de qualquer lugar do mundo. Eu morri por causa do amor. Foi um tiro certeiro, calculado exatamente no peito. Do lado do coração. Sorte minha que pude sentir o meu sangue quente escorrer pelas veias, mas valor nenhum isso tinha para um mero desconhecido desprovido de amor.

Se eu soubesse que aquela seria a última lua, teria sorrido de volta.
...na eternidade, o verdadeiro caso do Pierrot e Colombina
Amém-mos.

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